Uma mostra virtual de teatro, de 04 a 13 de dezembro, com espetáculos e demonstrações de trabalho online, gratuitos. Uma oportunidade para entrar em contato com nomes importantes do teatro mundial e da tradição europeia, rever obras emblemáticas no formato digital e descobrir a produção de países da América Latina, do Brasil e de Londrina. 

A escolha do nome tem tudo a ver com uma das características do CICLO: aquela de ser um movimento, em constante construção. Os grupos participantes estão divididos em quatro “Giros”: o Giro Tradição, com a presença confirmada de espetáculos do Odin Teatret (Dinamarca), do Open Program – Workcenter of Jerzy Grotowski and Thomas Richards (Itália) e do Teatro Potlach (Itália); estes últimos também assinam a coprodução do CICLO 2020/2021. 

Os giros continuaram com uma seleção de grupos da América Latina, no “Giro Internacional”, do Brasil, no “Giro Nacional” e de Londrina, no “Giro Local”, até dia 13 de dezembro. A escolha desses grupos participantes foi feita pelos de curadores do CICLO, equipe formada por Ney Piacentini, Valmir Santos, Stela Fischer e Rogério Francisco Costa. Todos os espetáculos ficaram disponíveis por 24 horas e a visão foi gratuita no canal Youtube do CICLO.

Com o Giro Local, o CICLO apresenta um recorte da produção londrinense no sentido de ampliar os horizontes desses espetáculos e coletivos ao serem vistos por um público diverso nacional e internacional na rede que estamos criando com empenho e paixão. Londrina sempre terá seu lugar no mapa mundi das artes cênicas com a força de um passado que ainda pulsa e a resistência de artistas que ocupam ruas, teatros e salas experimentais intermitentemente. A produção local justifica a criação do CICLO, sem esta base sólida e múltipla não faria sentido propor um movimento que festeja as artes cênicas.

No Giro Nacional, um desenho entremeado por linguagens e necessidades diversas que o tempo atual exige da arte. O ligação atávica com a América Latina aparece de forma potente nos textos de Eduardo Galeano no Abrazo do potiguar Clonws de Shakespeare. Já os atuadores do Ói Nóis Aqui Traveis nos lembram das viúvas que lutam pelo direito de saber onde estão os homens que desapareceram ou foram mortos pelas ditaduras em nosso continente de maneira alegórica. O Teatro de Caretas do Ceará vem com o resultado da pesquisa sobre teatro de rua denominada “teatro de invasão”. Durante o percurso dessa experiência os cearenses tiveram encontros com Miguel Rúbio do Grupo peruano Yuuaschani. A realidade latina pulsando nas calçadas de Fortaleza. A Cia. de Teatro de Heliópolis nos mostra o julgamento de um jovem negro cuja comunidade aposta em sua inocência ao contrário da (in) justiça que tenta condená-lo. É o retrato de uma cena teatral que explode nas periferias de São Paulo. No Giro nacional pulsa nossa sensação urgente de pertencer a um continente que de alguma forma tentaram nos roubar. Somos todos um só nas ruas e tablados. Somos latino-americanos.

O Giro Internacional mergulha no resgate da memória, da oralidade, da linguagem, da cosmovisão e da cultura do povo indígena e da defesa dos direitos humanos por meio das artes cênicas. Com a participação de coletivos da Bolívia, Chile e Guatemala vemos ai uma oportunidade de acercar-nos do que é nosso mesmo que nem sempre o saibamos. Quando nos deparamos com essas obras algo dentro de nós grita por (re)conhecimento. O CICLO se identifica e reflete as artes cênicas de nosso continente.

O Giro Tradição nos faz sentir em casa. Apesar de inquietante é acolhedor. Nos apresenta referências do antes e depois de experiências tão importantes que se eternizaram no campo das artes cênicas. O Odin Teatret, da Dinamarca, tem conosco um forte laço de afeição profissional e de vida. Ter ao nosso lado Eugênio Barba, o pai da antropologia teatral, e sua trupe, é no mínimo uma honra, afinal Barba nos ensinou e ensina tanto e sempre. O Workcenter of Jerzy Grotowski com sua generosidade oportuniza ao público obras nem sempre vistas e nos indica a força da manutenção, com suas variáveis, da tradição do Mestre Jerzy Grotowski. Pino Di Buduo nos brinda com uma nova produção, feita em tempos de pandemia com a genialidade de sempre. A tradição nos guia e nos leva para um futuro, que esperamos que seja tão fértil como o passado em constante construção pelas mãos destes três coletivos.